Esse título não parece contraditório? Como assim, então as duas coisas tem o mesmo significado? A resposta é sim!!! Bom, pelo menos no contexto que quero explorar abaixo…
Em meu processo de desenvolvimento tenho constatado que na medida em que deixo de negar, amplificar ou ignorar meus defeitos e limitações, tenho aumentado minha capacidade para desenvolvê-los. Quanto mais eu tomo consciência das características que eu gostaria de mudar em mim, quanto mais eu reconheço e aceito minhas dificuldades, maiores são as possibilidades de buscar ajuda e recursos para modifica-las.
Exemplos disso são duas cenas. Uma ocorreu há quatro anos aproximadamente, quando eu estava viajando para um trabalho em outro estado, junto com uma amiga, companheira de trabalho e durante o vôo, fomos discutindo sobre a necessidade de um cliente. Eu então, muito empolgada, aproveitei para compartilhar com ela o que eu havia pensado como solução para tal necessidade, quando ouvi dela a seguinte frase: “Toma cuidado para fazer algo simples, pois muitas vezes você se desfoca do olhar estratégico, se perdendo nos detalhes, e pode colocar energia demais onde não é necessário”.
Tomando esse comentário como uma crítica, imediatamente me senti ofendida, discordei dela e usei mil e uma justificativas para mostrar que ela estava errada, enfatizando meu compromisso com a qualidade e excelência. Ela trouxe algumas situações para evidenciar o porquê de sua recomendação, mas fui contundente em afirmar que essa era uma opinião pessoal dela e que eu não via da mesma forma. Trocamos mais algumas palavras na tentativa de convencimento mútuo, sem sucesso, o que só levou a um clima pesado entre nós, silêncio durante o restante da viagem e conversas limitadas a assuntos triviais.
Apesar de toda proximidade e abertura existente na nossa relação, nenhum argumento dela foi suficiente para me sensibilizar e me fazer considerar seus exemplos e correlações. Eu simplesmente não aceitei! Não gostei! Não concordei! E por isso não mudei!
“Aceitar a nós mesmos, aos outros ou às situações “não” significa resignar-se ou acomodar-se, sem buscar evolução. Para mobilizar mudanças é necessário qualificar que a necessidade existe, ou seja aceitar que a limitação existe e que tudo bem, pois existe a possibilidade de evolução”.
Esse fenômeno, que na Análise Transacional (Leia também – Produtividade e Analise Transacional) é conhecido como “Desqualificação”, refere-se a um mecanismo interno que minimiza ou ignora alguns aspectos de si próprio, de outras pessoas, ou da situação real. O propósito desse fenômeno é manter o mapa de referência e a crença individual, que no meu caso estava concentrada no entendimento que se um profissional não tivesse “SEMPRE” um olhar focado nos aspectos estratégicos, ele não seria competente. A desqualificação muitas vezes se manifesta em linguagem que inclui a grandiosidade “sempre, nunca, todos, ninguém”, dentre outras palavras que faz com que as coisas tomem uma proporção exagerada e por isso, fora de uma realidade, fora da possibilidade de aceitação e mudança.
Podemos desqualificar a nós mesmos, aos outros ou a uma determinada situação. No caso acima, eu desqualifiquei a mim – ignorando essa minha característica de ser muito detalhista; à minha amiga – desconsiderando a visão dela e sua capacidade de percepção; e também a situação – concluindo que talvez ela até tivesse razão em alguns exemplos, mas que isso não tinha importância para o contexto.
Acontece que quando não qualificamos, não fazemos contato com nossas limitações e impedimos a possibilidade de tomar consciência disso e consequentemente de mobilizar ações para mudança, uma vez que afirmamos que tais limitações não existem.
Contudo, um dia…. (graças a Deus sempre tem um dia…) recebi um feedback semelhante de minha mãe, em um contexto totalmente diferente, fazendo docinhos de natal juntas. Eu estava me ocupando em deixar muito lisa a parte de cima dos biscoitos, e usei mais tempo do que de costume, para que não ficasse visível nenhuma ranhura na massa. Olhando minha dedicação concentrada, minha mãe sutilmente me lembrou que os biscoitos seriam pintados e que nenhuma imperfeição da massa ficaria visível sob a capa de glacê. Finalizou comentando: – “o que importa é o resultado filha, tanto detalhe nem sempre é necessário”. Automaticamente a imagem de minha amiga me veio à mente, junto com muitas outras situações passadas onde repeti tal comportamento. Lembro-me do pensamento que tive no momento, sintetizado pela afirmação e concordância: É mesmo, eu sou bem assim! Não precisa disso tudo!
“Você está Ok”, significa que eu o considero como um ser humano único e importante e encontro significado e valor em você do jeito que você é. Mesmo que você tenha muito o que crescer, aceito-o no processo de lidar com isso.
A partir desse choque de consciência, materializado na qualificação e aceitação desta minha característica, fiquei muito mais atenta e pude organizar formas de lidar com isso, como a utilização de auto questionamentos para validar a real necessidade de fazer algo, checando periodicamente: “Precisa mesmo?” e “Isso já não é o suficiente?” os quais fui treinando até calibrar meu senso crítico e auto cobrança.
Aceitar a nós mesmos, aos outros ou às situações “não” significa resignar-se ou acomodar-se, sem buscar evolução. Para mobilizar mudanças é necessário qualificar que a necessidade existe, ou seja aceitar que a limitação existe e que tudo bem, pois existe a possibilidade de evolução.
Aceitação está relacionada à nossa capacidade de Okeidade, compreendendo que “eu estou OK e você está Ok”, ou seja que temos pontos forte e pontos à desenvolver e que tá tudo certo. Para Muriel James, compreender que “eu estou Ok” significa “aceitar-me como sou, isto é, como estou em processo. Como ser humano com problemas, como alguém que pode ainda ter muito o que crescer psicológica e espiritualmente, como alguém que falhou, cometeu erros mas ainda continua em frente”.
De fato, apesar de nossa crítica tão afiada, todos nós queremos ser aceitos pelos outros. Ao escrever isso, me vem à mente as palavras da música Quero Quero de Claudio Nucci:
“Ai, eu quero, quero tanto
Que você me aceite do jeito que eu sou
Muito inibido, recatado, tímido, puro de amor…”
Ou seja, aceitação é o que buscamos no outro. “Você está Ok”, significa que eu o considero como um ser humano único e importante e encontro significado e valor em você do jeito que você é. Mesmo que você tenha muito o que crescer, aceito-o no processo de lidar com isso.
Quando vivemos na Okeidade, temos mais facilidade em reconhecer as forças e perceber as limitações (nossas e alheias), enxergando os fatos com mais tolerância, o que permite aceitar sua existência e buscar caminhos para evolução.
#AceitarParaMudar – Ótimo direcionamento para não se resignar e estagnar.
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