A resposta a essa pergunta poderá vir precedida por um “Depende”. Depende pois há incontáveis variáveis relacionadas à forma de cada utilizar o seu tempo. No entanto, independente do que vier depois do “depende”, a questão central aqui é: o tempo pessoal pode ser considerado de outras maneiras que não somente a divisão entre trabalho e tempo livre.
Embora em alguns momentos da vida juremos de pés juntos que gostaríamos de ter todo tempo livre e não precisar fazer nada, Erick Berne, criador da Análise Transacional, afirma que todos temos três fomes psicológicas, assim como nosso corpo tem fome de comida e descanso. Uma delas é justamente a fome por estruturação do tempo. E fazemos isso, segundo o autor, para evitar a dor do tédio. (Leia também – Produtividade e Analise Transacional http://bit.ly/2jrRuZf)
Do berço ao túmulo, a questão do que fazer do tempo é para nós uma das mais primais. Os antigos gregos e hebreus, embora tivessem conhecimento do tempo do relógio (Chronos), consideravam como mais importante o preenchimento do tempo com contados significativos (Kairos). As horas, dias, meses ou anos não eram o seu foco de interesse, mas a maneira como eram preenchidos com fatos e seus significados e a forma que cada um reagia á eles. Para eles, era isso que dava significado ao tempo.
Você já experimentou surpresa quando o relógio acusou que estava na hora de ir no meio de uma atividade prazerosa? É possível que a situação vivida tenha sido tão significativa que você simplesmente se distanciou do tempo. Também é comum experimentarmos a sensação do tempo se arrastar. Nesse caso, é possível que a situação em que estávamos envolvidos tinha pouco ou nenhum significado percebido.
O corpo humano parece ter os seus próprios relógios. Certos padrões biológicos tais como respiração, batimentos cardíacos, operam em ciclos muito curtos. Outros, tais como a fome e o ato de comer, a sede e o ato de beber, trabalho e descanso, levam mais tempo para completar o ciclo. É o relógio do corpo também que diz a uma pessoa quando acelerar, quando parar e quando o corpo não está bem e precisa de cuidados.
Durante o ciclo de vida de uma pessoa, esse relógio assinala a passagem da juventude, a maturidade e o ocaso da velhice. É preciso certa coragem para encarar seu próprio relógio, especialmente quando sua mensagem é de que está ficando mais velhos ou que estamos prejudicando nosso corpo de algum modo. Mas é preciso. Segundo a Analista Transacional Muriel James “Controlar o seu próprio tempo – o tempo do relógio, o tempo significativo e o tempo biológico – é importante para desenvolver eficientemente um ser em relacionamento”.
Mas de que forma a maneira que estruturamos nosso tempo está ligada à nossa habilidade de relacionamento interpessoal? (Leia também – Tempo é Vida http://bit.ly/tempoevida)
O corpo humano parece ter os seus próprios relógios
A Análise Transacional distingue seis formas de estruturação do tempo social, isto é, seis alternativas de comportamento social à sua escolha que caracterizam o tempo de interação com outras pessoas. São elas: Isolamento, Rituais, Passatempo, Atividades, Jogos e Intimidade.
Essas formas traz graus diferentes de interação, reconhecimento e exposição e, consequentemente, preenchem de forma diferente a necessidade de interação genuína e verdadeira que todo ser humano possui. Nós podemos ir de um extremo à outro escolhendo o isolamento como uma forma de não interação ou a intimidade, preenchendo nosso tempo com contatos verdadeiros e abertos.
Embora haja pessoas reclamando que não tem controle algum sobre o tempo que parece “atropelá-la” é importante estarmos conscientes de que somos nós que escolhemos como utilizar nosso tempo. Desligar o piloto automático e conscientemente escolher utilizar o tempo de forma significativa trará possibilidades diferentes de nos sentirmos vivos, plenos e felizes. Ou, nas palavras de Eric Berne, poderemos estruturar o tempo com mais intimidade e mais vida.
Se a forma de utilizar o tempo é uma escolha, com quanta vida você tem preenchido o seu tempo?
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