Esta semana, em um dos grupos de mensagem do qual participo e que é focado em assuntos relativos à Gestão de Pessoas e Oportunidades de Trabalho, apareceu um anúncio com o título Gerente de Recursos Humanos. Na descrição da vaga constavam requisitos realmente alinhados com a experiência de um gerente, inclusive o tempo de experiência na função, mas o que me chamou a atenção foi o item salário. A empresa contratante estava disposta a oferecer um salário de analista a um cargo de gerência com amplo nível de responsabilidade e influência nos rumos da organização.
Fiz questão de gerar uma discussão no grupo focando esta questão financeira, até para saber se o valor que eu imaginava para o salário de um gerente de recursos humanos não estava alinhado com a realidade, mas dentro do grupo a impressão dos outros membros foi a mesma que a minha. De repente, neste pequeno fórum chegamos à uma triste conclusão: Muitas empresas – não todas – querem contratar as pessoas certas para os lugares certos, porém sem oferecer as condições certas para que o “lugar” seja considerado certo pela pessoa que se quer contratar.
Um gerente de Recursos Humanos, com formação de nível superior, pós-graduação, mínimo de 2 anos de experiência em todos os subsistemas de gestão de pessoas, contabilizando com valores de hoje, precisou investir muito tempo e dinheiro para construir esta carreira. Pelas condições oferecidas pela empresa, certamente o alvo são profissionais que estão disponíveis no mercado de trabalho, porque acredito que alguém alocado em uma vaga real de gerência não teria fortes inclinações à trocar seu trabalho atual por uma oportunidade com salário em média 50% menor – haja altruísmo!
soa meio que como uma grande covardia, algo como se eu quisesse comprar um BMW pagando o preço de um Renault só porque o BMW está encalhado na loja devido a falta de dinheiro de seus consumidores habituais.
Falando deste anúncio lembrei de uma situação que aconteceu comigo recentemente. Dos meus 20 anos de carreira, 14 deles atuei também como professor, iniciando em cursos técnicos, passando por cursos de graduação e pós. Atualmente, como professor, trabalho apenas em programas de pós-graduação onde desenvolvo os temas relacionados à Gestão Estratégica e Desenvolvimento Gerencial. Esta carreira foi construída como muito afinco e investimento de tempo, suor de neurônios, abnegação e principalmente dinheiro, e talvez este relato meu possa soar arrogante para você, mas insisto em seguir por este caminho.
Sou Administrador de Empresas, Especialista em Gestão de Negócios, Mestre em Administração Estratégica e todas estas titulações foram obtidas em instituições particulares e de reputação bastante significativa e proporcional aos valores pagos. Além disso, investi também em formações paralelas como certificações Coach, Master Analista Comportamental DISC, PNL, Eneagrama, Andragogia, Modelo de Excelência em Gestão, além de viagens, idiomas, livros, portais de conteúdo entre outros custos/despesas para contribuir com meu objetivo de ser a pessoa certa para algum lugar certo.
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Certo dia, estava trabalhando na construção de uns materiais para um cliente e então recebo uma mensagem pelo chat do Facebook. Era uma pessoa que eu não conhecia, mas que sabia que eu lecionava em programas de pós. Ela me ofereceu uma disciplina em um curso que estava sendo ofertado em uma cidade do interior do Estado de Santa Catarina – 400 km distante de minha casa – e que tinha carência de um professor com a minha titulação.
Verifiquei a agenda e o sábado e o domingo em questão estavam disponíveis então fomos para os assuntos financeiros. De repente neste momento fui surpreendido por uma proposta 60% menor do que o honorário que eu consegui conquistar em meu trabalho como professor neste tipo de curso. Entenda, não é que eu ganhe muito, mas a oferta foi absolutamente indecorosa – poxa, 60% menor inaceitável. Na hora entendi porque o curso estava carente de professor “para ontem”.
No Brasil vivemos ainda uma triste realidade com muitos profissionais sem emprego há um certo tempo, com contas atrasadas, sonhos adiados, estilo de vida revisado, e que são alvos claros deste tipo de oportunidade de trabalho. Sei lá, mas soa meio que como uma grande covardia, algo como se eu quisesse comprar um BMW pagando o preço de um Renault só porque o BMW está encalhado na loja devido a falta de dinheiro de seus consumidores habituais.
A discussão de pessoas certas nos lugares certos precisa passar por um pensamento ganha-ganha independente de estarmos em um momento de crise ou não, afinal um profissional que investe em seu desenvolvimento, constrói uma carreira interessante e consistente e busca qualificação precisa ser reconhecido, financeiramente inclusive, pois a construção de seu currículo também custou caro.
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