Devemos tomar cuidados com os modismos. Tem muita coisa boa por ai e gente capacitada
atuando com o objetivo de melhorar o desempenho, todavia é perceptível algumas práticas
tóxicas que mais prejudicam do que contribuem.
Quando alguém se disponibiliza a ajudar outras pessoas, ela passa a ter uma responsabilidade extraordinária em suas mãos. Uma frase, um conselho, uma orientação errada podem transtornar totalmente a vida de alguém, sua carreira e seu futuro.
Se fosse tão fácil transformar a vida dos outros, ou seu comportamento, todos os problemas
da humanidade já teriam sido resolvidos. A história é repleta de deuses, profetas, gurus e
conselheiros que tentavam fazer este papel. Alguns foram sábios e transformadores e outros
foram uma tragédia na história humana.
Cada um tem sua forma de agir, resultado de fatores genéticos, insights percebidos especialmente nos primeiros anos de vida, ambiente familiar e social e até aspectos físicos do funcionamento do cérebro.
A Neurociência tem trazido cada vez mais informações que são revolucionárias no comportamento das pessoas. Recentemente um artigo publicado na revisa “Nature” informou
que foi descoberto o mecanismo que inibe pensamentos indesejáveis. Isto trouxe uma informação importante para que os cientistas identifiquem uma forma de criar algum
medicamento que possa suprimir pensamentos indesejados, provocadores de ansiedade, estresse, depressão e outras formas de sofrimento emocional.
Por que estou comentando isto? Por que é muito desafiador você tratar de alguns fenômenos
comportamentais apenas num processo de coaching. Nosso cérebro tem algumas
resistências apesar da capacidade de plasticidade neural e já há comprovação, por exemplo,
que SEXUALIDADE, AGRESSIVIDADE E EGOÍSMO são impossíveis de serem modificados.
Por outro lado há uma luz em relação a empatia e a compaixão que segundo notícias recentes podem ser desenvolvidos, desde que a pessoa não tenha a propensão a psicopatia.
Algumas pessoas tem o dom especial da percepção comportamental, especialmente aquelas com perfis mais relacionais e de liderança, já outras mesmo com muito empenho tendem a ter dificuldades como conselheiras e desenvolvedoras. Aquelas excessivamente sistêmicas podem não ter um cérebro tão preparado para a percepção das emoções e consequentemente não conseguirão bons resultados, ou no mínimo terão muitas dificuldades.
Uma frase, um conselho, uma orientação errada podem transtornar totalmente a vida de alguém, sua carreira e seu futuro.
É importante que a atividade de coaching inicie com uma análise de perfil, feita por meio de testagens psicológicas. É o inicio do diagnóstico para observar se o que a pessoa pretende desenvolver realmente é possível. Tem coisas como criatividade e inovação, controle emocional, ética, capacidade para enfrentar frustrações, entre outras que se tornam extremamente desafiadores e para algumas quase impossíveis. Esta informação tem base científica e não mera suposição.
Uma situação observada no momento é a promessa de que o profissional de coaching
poderá ter uma renda superior a média praticada no mercado. Isto tem atraído formadores de
coaching e alunos de todos os cantos da terra. E novamente posso garantir que também nesta área não existem milagres. Os cursos não deixam de ser importantes ferramentas para o desenvolvimento na metodologia COACHING, mas não podem simplesmente propagar o
que não é possível. Como é que podemos garantir conhecimento suficiente para atuar numa
atividade importantíssima somente com a participação em um curso? E a trajetória de vida?
O conhecimento sobre o funcionamento da mente e os comportamentos? A informação
conceitual e acadêmica e o dom natural para desvendar necessidades humanas?
O COACHING é um processo moroso e não traz resultados para todos. Também tem situações que não se sustentam por muito tempo, pois algumas pessoas voltam ao seu DNA comportamental depois de algum tempo ou em situações de extremo conflito. O modelo adaptado tem prazo de validade em muitas circunstâncias. Precisamos ter consciência disto.
(Leia também: No comportamento humano, 1 + 2 pode ser igual a 5!)
Não podemos negar que em algumas situações os resultados são fantásticos, pois o ambiente, o perfil e as possibilidades são plausíveis. Nestes casos a formação, a leitura, a experiência e a pesquisa são fundamentais para um bom COACH, afinal ele precisa conhecer a fundo o comportamento humano e organizacional.
Um bom coach tem que ter amplo conhecimento do contexto, das pessoas e da vida É
exímio leitor de matérias sobre o comportamento e o funcionamento da mente humana. Tem
sensibilidade especial para perceber reações, emoções e contrariedades. Gosta de gente e se dedica de corpo e alma a elas, visualizando potencializadores e sabotadores. Certamente temos muitas pessoas assim no mercado e algumas parecem também ter isto como um dom natural.
E o mentoring? Esta é uma outra seara. Só posso ser mentor se já sentei na mesma cadeira
da pessoa que pretende se desenvolver e alguns estudos tem comprovado a eficácia da junção do coaching com o mentoring.
Existem alguns perigos e modismos e precisamos ficar atentos. Reforço que estamos num
ambiente complexo e transformador e as pessoas precisam de ajuda. Os desafios são maiores do que a capacidade que muitos tem para enfrenta-los e existem metodologias e ferramentas adequadas para cada situação. Mas não podemos prometer resultados milagreiros.
O coaching pode ser algo tóxico quando ele promete coisas que não pode cumprir. Ele também é tóxico quando é aplicado por pessoas que não estão preparados para esta missão tão nobre e formidável no desenvolvimento de muita gente que precisa ansiosamente de ajuda.
O processo de coaching vai muito além da tarefa de fazer perguntas de forma sistemática. Não é possível moldar as pessoas e transformá-las em algo que não são, todavia podemos desenvolver coisas extraordinárias e isto vai depender dos dois lados da moeda: COACH e COUCHEE.
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