Participei recentemente de um painel de discussão* que partiu desta provocação. Ao organizar minhas ideias para o debate, visto que a proposta era não ter uma apresentação, mas ir direto para a pura troca, me surpreendi sobre como um exercício destes pode ser esclarecedor.
Alguns insights depois, decidi compartilhar aqui meus pensamentos.
Sinto desapontá-los, mas vou logo dizendo que não existe RH Estratégico. Só existe uma estratégia, a estratégia do negócio. O resto é bla bla bla.
E o RH? Bla bla bla também.
Michele, como assim, somos profissionais de RH, não podemos dizer isso. Ok. Então
anota aí.
O RH Estratégico (na falta de outro, uso o termo somente para dar nome a esta persona) não fala de RH, fala de negócio. Ele só consegue “ser estratégico” se toda sua atuação for um desdobramento DA Estratégia. Alguém aqui já ouviu aquela frase “isso é coisa do RH”? Ou pior: “isso é culpa do RH”? Isso acontece quando o RH fica ensimesmado, quando faz benchmark e volta para a empresa com o projeto pronto, porque é a última tendência no mercado e a empresa não pode ficar de fora. Porque quer ganhar o prêmio de melhores práticas de RH.
Eu ouvi esta frase no mesmo evento: “Se você precisa da sua empresa para se desenvolver, você é um profissional do passado.” Nesse contexto o RH é obsoleto, certo? Errado. O RH Estratégico é muito mais do que desenvolvimento. Mais do que seleção, remuneração, ou qualquer outro subsistema. É muito mais do que o grande projeto do ano, do que o-melhor- programa-dos- últimos-tempos- da-última- semana, ou da contratação da consultoria top das galáxias.
O RH Estratégico é transdisciplinar. Transita no marketing, no comercial, na produção, no financeiro, nas redações, nas fábricas, em qualquer área da empresa. Ele não participa da reunião quando tem assunto de RH. Ele faz parte da reunião. Ponto.
..não existe RH Estratégico. Só existe uma estratégia, a estratégia do negócio. O resto é bla bla bla.
Sua maior missão é atuar no invisível. Guardião da Cultura, dizem. Não pode apenas guardar, entretanto, senão esculpir, lapidar, polir, com vigorosos ou sutis, mas sucessivos movimentos. Seu maior mérito é ver o que ninguém viu e ouvir o que ninguém disse. Desvelar versões, nunca se contentar com a primeira impressão e saber que tudo tem dois, três, quatro, ou muitos lados.
(Leia também: Quais suas estratégias diante da tansformação do mercado de trabalho?)
O RH Estratégico muitas vezes não brilha no palco, é mais trama de bastidor. Pode até ser imperceptível, mas não deixa ponta solta. Ele é corte e costura, é a dica no corredor. É ajeitar a bola para o outro chutar e se alegrar com o gol.
Para os líderes, é espelho, e faz refletir. Não é só coaching, mentoring. Também empurra, segura. Ouve, acolhe, orienta. É aquele grilo falante, é a cúmplice troca de olhar em um momento decisivo.
E sabe o que mais? Incompreendido, muitas vezes, fica o RH Estratégico que não age na superfície e não faz obras grandiosas que aparecem nas vésperas de eleição. É a virada da folha, é a matriz de risco do SESMT. É investimento em infraestrutura, alicerce, saneamento básico.
Muitos vão discordar, duvidar, argumentar. Ótimo. Porque isso tudo é uma crença, a minha crença. E é uma clareza que apazígua os meus ânimos quando a incerteza vem. Porque a crença é inabalável, mas eu não.
P.S. Para o meu time, que topa todos os dias comigo esta viagem sem volta. Sem vocês, seria impossível.
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