Um dos requisitos básicos para uma boa contratação ou progressão de carreira acertada é saber alocar o humano certo no cargo certo. Para isso não nos faltam técnicas e recursos, desde mapeamento de perfil comportamental até entrevistas recheadas de dinâmicas em grupo para avaliar se o candidato deixa escapar alguma coisa que está bem escondida lá dentro dele. Porém por vezes me faço essa pergunta: será que tudo isso serve para alguma coisa mesmo?
Ontem em sala de aula onde eu tratava o tema Ferramentas para Gestão de Pessoas com uma turma de pós-graduação, surgiu um ponto de análise: nossas empresas estão buscando um processo de gestão de pessoas mais humanizado. Nossa, que notícia ótima! Mas na prática, como é que as empresas fora das salas do RH estão tratando mesmo o tema? Nossos RHs estão realmente alinhados com a cultura e estratégia corporativa, ou eles têm servido apenas como meio de expiação de culpa dos CEOs que pensam 100% em resultados?
(Leia também: Candidato, está na hora de você entregar o seu melhor!)
São questões difíceis de serem abordadas, é verdade, mas carecem de muita atenção em tempos onde se popularizam as ferramentas de desenvolvimento humano e autoconhecimento. Este movimento tem tornado os humanos mais esclarecidos e preparados para serem o que eles querem ser bem como também serem o que dizem que o mercado espera de profissionais de alto desempenho. O que apimenta ainda mais este caldo é o crescente movimento das pessoas em busca do seu propósito de vida, fazendo com que múltiplos propósitos individuais tenham que caber em um propósito maior corporativo.
nossas empresas estão buscando um processo de gestão de pessoas mais humanizado
A toda esta grande mistura, proponho que juntemos ainda a necessidade de muitos profissionais encontrarem um novo lugar no mercado de trabalho, não porque queiram mudar, mas porque é muito alto o número de desempregados no Brasil nos dias de hoje. Em maio/2017 falamos em algo em torno de 14 milhões de pessoas disponíveis no mercado de trabalho brasileiro. Em processos seletivos mais exigentes e situações financeiras pessoais cada vez mais comprometidas por conta da falta de emprego, podemos ter como resultado uma mistura bastante indigesta para os humanos que buscam a qualquer custo ser o recurso de alguma empresa que os aceite, como para as empresas que buscam um talento para entregar o seu melhor com níveis de exigência cada vez maiores.
Não sei para você, mas para mim a equação não fecha. As empresas querem ótimos humanos para os processos seletivos, mas será que seu cotidiano está preparado para o que estes humanos realmente? Pessoas com altos índices de competências comportamentais podem contribuir fortemente com o aprimoramento da cultura organizacional, mas também elevam a régua no que tange ao funcionamento das coisas – se não o fizerem, acredite, sua cultura já os corrompeu! Será que estas empresas conseguem entregar o nível de humanização que demonstram em seus processos seletivos também no seu dia à dia, com crises em sua cadeia de liderança, volume baixo de vendas de produtos ou serviços e reclamações de clientes?
Talvez você tenha começado a ler este texto pensando em encontrar respostas à pergunta que é tema dele, mas no fim das contas percebeu que ele só te faz mais perguntas. Tomara que elas te façam refletir sobre suas práticas, seja você uma pessoa que está buscando um trabalho, ou uma pessoa que administra o processo de Gestão de Pessoas de uma empresa, ou até mesmo o CEO de um negócio. Nós podemos ser o humanos que quisermos ser, mas será que as empresas e o mundo estão realmente preparados para isso?
Até o próximo artigo!