Blog RHThink
Hub de Insights e Opiniões sobre Gestão de Pessoas, Liderança e Comportamento
  • Principal
  • Sobre
  • Contato

Para um bom entendedor..

Armando Pastore março 20, 2017 Comportamento

Há tempos não ouvia essa frase. Hoje pela manhã em um supermercado perto de minha casa tive o desprazer de ouvi-la novamente em uma discussão entre um cliente e o caixa. Confesso que fiquei espantado, principalmente quando um dos participantes da discussão – o cliente –gritando, informava que era um gerente de uma empresa e que se algum subordinado dele tratasse algum cliente de forma mal educada ele haveria de responder pelos seus atos. Imediatamente o caixa do supermercado, extremamente educado, perguntou o que havia dito que teria deixado o cliente tão nervoso. A resposta do cliente foi como uma bomba: Para um bom entendedor meia palavra basta!

Trabalho com comunicação há muitas décadas e ao longo desse período insisto e persisto em mostrar às pessoas que participam dos meus eventos que para uma boa comunicação essa frase é um pecado mortal. Quase imperdoável (outra frase que deixa margem a muitas interpretações).

Lembro-me também de uma outra frase mais antiga ainda: Para quem sabe ler pingo é letra!

Em diversas ocasiões, frases similares a essas aparecem em diálogos, nem sempre produtivos, o que fatalmente prejudicam o bom entendimento, promovendo conflitos totalmente desnecessários. Alguns deles perduram por anos e são de difícil gestão.

(Você pode curtir ler também – A informação subliminar no olhar)

Certa vez passei por uma situação dessas. Confesso, tive muitas dificuldades em conseguir uma boa comunicação com o meu interlocutor.

Estava ministrando um curso sobre formação de consultores e um dos alunos toda vez que havia um debate ou perguntas comunicava-se diretamente comigo de uma forma agressiva e buscando sempre colocar-me em uma situação de constrangimento. Utilizava de ironias e palavras sarcásticas totalmente desnecessárias ao contexto o que me incomodava e aos demais participantes.

Em um intervalo procurei-o reservadamente e perguntei as razões da agressividade, ironias e sarcasmos, indicando e pronunciando claramente as frases que ele pronunciara e solicitando explicações e as razões para aqueles comportamentos. A frase do meu aluno que veio a seguir foi terrível: Você sabe do que estou falando. Não gosto de pessoas como você.

Percebi o quanto nossa comunicação não verbal é importante

Imediatamente, utilizando aquilo que conhecia de comunicação, perguntei o que eu deveria saber e o que ele não gostava nas pessoas como eu. Outra resposta interessante: Ora não se faça de tonto. Pessoas como você sempre disfarçam.

Um novo momento de total perplexidade e refiz a pergunta: A que tipo de pessoas você está se referindo? Ainda não compreendo.

Bastante irritado e elevando o tom de voz o aluno emendou com a frase: Você é gay! Eu não suporto pessoas como você!

No tom de voz que ele falou as poucas pessoas que estavam na sala, ao ouvir, ficaram como eu, espantadas. O que deveria falar para o meu aluno que pudesse faze-lo compreender que ele estava enganado?

Hoje provavelmente você está rindo, eu também. No dia o meu espanto era tão grande que por alguns momentos não achava palavras para expressar o que estava sentindo. Minhas reações estavam lentas. Uma breve revisão das minhas palavras, comportamentos e da minha comunicação não verbal não indicavam quaisquer possibilidades de que eu poderia estar passando algo que poderia ser comparado a uma atitude de constrangimento sexual para o aluno e nem para os demais participantes. Um silêncio estarrecedor e profundo se fez naquele momento e olhando para o aluno vi que ele tinha um leve sorriso no rosto.

(Leia também – Admirável mundo novo?)

Felizmente, ao invés de utilizar da mesma armadilha a que estava prestes a cair, a agressividade, utilizei de uma forma assertiva; respondi que, através de palavras seria impossível provar que era ou não era aquilo que ele afirmava e que não recordava de nenhuma atitude que permitisse chegar àquela conclusão e sequer havia, caso fosse gay, utilizado de qualquer palavra ou ação que pudesse leva-lo a entender como assédio ou algo similar. No entanto teria que respeitar o que ele estava pensando embora não estivesse de acordo.

Pareceu-me por alguns segundos que ele perdera a sua posição de ataque e passava a entender as minhas palavras de outra forma. Percebendo esse pequeno vacilo perguntei se ele poderia dar algum sinal que o levou a pensar daquela forma. A resposta foi reveladora: Você fica tocando nas pessoas. Só permito que mulheres me toquem. Homens de verdade não ficam se tocando e também tem esse seu “jeitinho”.

Aquilo tirou um peso dos meus ombros e das pessoas que estavam ao redor. Ouvi alguns sorrisos e comentários abafados dos outros participantes.

Que lição podemos tirar desse episódio? Sinceramente são muitas. Entretanto ressalto uma que parece-me a mais relevante. Algumas pessoas sentem-se incomodadas e constrangidas quando são tocadas, mesmo que seja no ombro ou em outras partes do corpo que dificilmente poderemos julgar como assédio sexual ou algo parecido.

Percebi que o modelo de mundo daquela pessoa tinha algo de especial e, sem que eu pudesse saber, as minhas atitudes, comportamentos e comunicação verbal e não verbal despertaram nele comportamentos defensivos ao extremo. Consegui não utilizar em momento algum de agressividade nas minhas palavras e tampouco senti-me submisso ao aluno. Continuei com a minha maneira de ser, tomei cuidado com o que falava para aquele aluno e principalmente, não toquei nele em todo o restante do evento.

Aprendi algo mais naquela tarde. Percebi o quanto nossa comunicação não verbal é importante. Verifiquei que para algumas pessoas o contato pode ser algo que incomoda e constrange muito mais do que imaginamos. Finalmente aprendi que o modelo de mundo de cada pessoa é diferente e que temos que antes de mais nada compreende-lo. Há sempre uma excelente maneira de realizarmos a comunicação.

Você caro leitor deve estar pensando e imaginando uma série de coisas sobre o aluno. Esqueça. Não alucine. Todos nós precisamos compreender antes de concordar ou discordar.

Ia esquecendo da frase inicial, resolvo reescreve-la: “Para um bom comunicador meia palavra não basta!”

Armando Pastore

Armando Pastore

Matemático, Pós Graduado em Administração de Recursos Humanos, Coach e Mentor ISOR® com Certificação Internacional em Mentoring e Coaching Holo-Sistêmico (Holomentoring®) pelo Instituto Holos, Formação em Coordenação de Dinâmica dos Grupos pela SBDG (Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos). Membro da World Future Society, Formação de Master Trainer em Programação Neurolinguística. Professor dos Cursos de Pós Graduação, consultor de Desenvolvimento e Treinamento e Recursos Humanos Facilitador e Conferencista de eventos nos seguintes temas: Qualidade de Vida e Trabalho, Criatividade, Comunicação, Facilitadores de Aprendizagem, Conflitos e Negociação, Visão Estratégica de RH, Planejamento Estratégico, Desenvolvimento Gerencial, Liderança, Visão de Futuro, Formação de Consultores Internos, Programação Neurolinguística.

Mais posts - Website

Redes Sociais:
FacebookLinkedIn

Compartilhar nas redes sociais
Share on Facebook Share
Share on TwitterTweet
Share on Google Plus Share
Share on LinkedIn Share
Tags:comunicação

Posts Relacionados

  • POSTO OU NÃO POSTO? 4 dicas para se pensar antes de postar algo na sua rede social

    03/05/2018
  • Comunique-se criativamente

    25/04/2017
  • Por que ninguém me escuta?

    09/01/2017

Busca

Redes Sociais

  • Popular
  • Recent
  • Desafios da liderança em tempos de popularização do autoconhecimento 07/06/2017
  • A Dor de uma Demissão 01/06/2017
  • As quatro etapas do desenvolvimento 31/08/2017
  • Gestão e Liderança: Onde uma começa e a outra termina? 12/01/2017
  • Será que nossas empresas estão realmente preparadas para os humanos que querem contratar? 21/06/2017
  • 4 ferramentas para RH que você precisa testar agora 22/03/2019
  • INTELIGÊNCIA EMOCIONAL – UMA HABILIDADE NECESSÁRIA 09/01/2019
  • O EFD – REINF – OQUE VOCÊ PRECISA SABER 14/11/2018
  • INSIGHTS PARA UMA BOA AVALIAÇÃO DE REAÇÃO 05/11/2018
  • 15 COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS E PRÁTICAS DE DESENVOLVIMENTO 24/08/2018

Newsletter

Categorias

  • Carreira
  • Comportamento
  • Desenvolvimento
  • Destaque
  • Gestão de Pessoas
  • Liderança
  • Recolocação
  • Relações Trabalhistas
  • Uncategorized
  • Video

Tags

aceitação Analise Transacional aprendizagem atitude autoconhecimento cerebro Ciclo de Vida coaching comunicação criatividade crise cultura organizacional currículo desenvolvimento desqualificação DISC Domenico de Masi eneagrama engajamento entrevista Eric Berne eSocial estratégia facebook feedback Flow Futuro inovação inteligencia emocional lider liderança Maslow mentoring Mindset motivação Muriel James neurociencia perfil comportamental propósito qualificação resiliencia talentos tomador serviço treinamento zona de conforto

Redes Sociais

Facebook

Posts Recentes

  • 4 ferramentas para RH que você precisa testar agora Romualdo Silva
  • INTELIGÊNCIA EMOCIONAL – UMA HABILIDADE NECESSÁRIA Juan O’Keeffe
  • O EFD – REINF – OQUE VOCÊ PRECISA SABER Neise Nascimento